Diario de Ressonancias coletivo

 

                          UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

                  Geórgia Lau; João Pedro Simões; Rafael Ostrovski; Victor Cumplido
                     Praticas Auto Gestionárias – Diário de Ressonâncias coletivo

 

chatíssimas

são as pessoas

que falam sobre Anarquismo

sem um pingo de emoção

        Para a elaboração do diário de ressonâncias, pensamos em um diário coletivo pois acreditamos que assim tomamos com mais atenção os vetores relevantes, bem como imaginamos que a elaboração em conjunto pode ser importante para que sejam lembrados também, vetores menos óbvios. Acreditamos que uma prática coletiva deste tipo de exercício pode também ser importante para lembrarmos mais uma vez da autogestão e deste modelo de organização entre um determinado grupo. Não queremos que transpareça uma leviandade de cada um ou algo do genêro, mas todos viemos experimentando ações coletivas nos últimos tempos, e a força de se estar em grupo é algo que ultrapassa as qualidades e possibilidades de um indivíduo apenas. Além disso, podemos perceber que este exercício coletivo foi importante uma vez que passamos a trocar algumas impressões sobre as aulas e discutimos pontos em dissonância, acreditando que a soma de todas as partes é prerrogativa para um todo. Quanto mais se soma, mais se tem a ganhar. Mesmo que sejam apenas possibilidades a serem discutidas. A ideia de se fechar um todo – completá-lo ou tomá-lo como algo dado – é oposta ao múltiplo embate de ideias. Esse último é o que permite a criação de algo novo, o contato com o inesperado.

O curso começa com uma ideia diferente daquela mais convencional nos meios acadêmicos. Teoricamente, o curso deveria ser gerido e ministrado em conjunto, sem hierarquização de poderes, horizontal, autogerido pelos que estavam interessados no programa, sem distinção entre as funções instituidas pela universidade. Ou seja, na turma havia um grupo misturado de alunos da graduação, professores, alunos de extensão, interessados, estudiosos e pesquisadores do tema, de diversas áreas do conhecimento. Sendo assim, não deveria haver alguém que respondesse por todos, que representativamente escolhesse a direção a seguir, mas todos os passos deveriam ser tomados em uníssono e coletivamente, da maneira mais apropriada que pudéssemos elaborar. Há de se reconhecer o esforço de se levar a cabo tal ideia, e a validade que a aplicação prática desta tem para os alunos, professores e para a instituição.

 

“(…) Não se pode negar que se trata de uma fascinante ciência. Farto estou de haver visto homens  cultos, literatos, poetas, políticos que procuraram e acharam nessa ciência o seu mais elevado conforto e a sua última finalidade, apenas tendo conseguido fazer carreira mediante emprego de tais dons.” O Idiota, Dostoiévski.

As primeiras aulas foram basicamente alguns acordos que precisávamos fazer, como por exemplo se iríamos sentar em roda na sala e como funcionaria a comunicação entre os participantes, e se esta seria celular ou não. Infelizmente houve uma precipitação por parte de algumas pessoas mais inflamadas em tentar formular um método adequado para o encaminhamento das aulas, o que, apesar da boa vontade, acabou por sair como um tiro no pé. Isso foi um resultado de certa forma esperado para um experimento deste tipo numa instituição como a nossa, uma vez que ela nos impõe prazos, metas, pressupostos, razões e outras questões burocráticas que fazem com que discussões sobre a metafísica da nossa prática e os conceitos que poderiam ser criados coletivamente neste espaço/tempo, acabassem sendo deixados como secundários ou menos importantes.

EEEPPAA.. e faltou também além da metafísica algo que nos tirasse constantemente do lugar comum, algo que não trouxesse conforto, mas desconforto!

Embora saibamos os limites que nosso corpo habita neste tipo de cenário institucional, acreditamos ter havido uma despreocupação filosófica geral no que tange a elaboração do próprio conceito de autogestão e do conceito de curso acadêmico, uma vez que, tomados como pressupostos menos importantes, ao invés de serem repensados e resignificados coletivamente, acabaram servindo apenas como um desestimulante geral para os inscritos na disciplina, uma vez que muitos dos que estavam ali não sabiam o quê estavam fazendo no curso, para quê estavam fazendo, ou simplesmente não quiseram saber como iriam fazer qualquer coisa ali dentro. Ou seja, a ideia era fazer um curso autogerido sobre autogestão, mas o que aconteceu é que não foi discutido – ou foi muito pouco – o que significava para nós o conceito autogestão, muito menos como autogerir um curso acadêmico. Algumas soluções que pareciam brilhantes na hora foram capturadas quase que automaticamente, apenas por não haver sugestão melhor naquele momento. Isso gerou um efeito bola de neve, mas ali não teríamos como saber onde ia dar, muito menos teríamos a presunção de afirmar que as coisas, do jeito que caminhavam, não iriam terminar tão bem.

Ok, não vamos dizer que não deu certo. Mas também não vamos fingir que funcionou da melhor maneira. Não acreditamos também que o processo se daria sem tropeços naturais, ainda mais conhecendo os trâmites institucionais que pairam suspensos no ar universitário. Porém, julgamos que deveria ter havido uma maior preocupação com a essência das questões mais triviais, como criação de conceitos, calendário, práticas ou simplesmente a criação de métodos de estímulo a participação de todos. Podemos até mesmo afirmar que houve ingenuidade quando não foram pensadas estratégias para a promoção da participação e integração entre os membros do grupo, ou seja, por determinar que as pessoas, apenas por estarem presentes naquele espaço, estariam em um estado de coletividade e que isso possibilitaria ao grupo autogerir-se.

 

“Monotonal.

Sua fala é como um zumbido

o cérebro recebe ondas-alfa

eu quase durmo”

 

Alguns de nós, em certos momentos, sentiram-se como que imersos em angústia semelhante à d’O Processo de Kafka: havia uma tentativa de elaborar a situação, compreendê-la em seus descaminhos, mas ao buscar soluções, se viam perdidos a um meio que funcionava de modo maquínico, impessoal, e portanto sem ter a quem recorrer de forma comunicativa. Ainda que o espaço da fala estivesse aberto nas aulas, a sensação é de que todas eram de alguma forma capturadas, perdendo-se a ideia original do postulante, tornando-se algo coletivo, porém não necessariamente bom por isso. Essa sensação foi compartilhada não apenas por nós, mas por outras pessoas do curso com quem trocamos idéias sobre a aula durante o semestre,  havia o sentimento de falta de espaço de expressão, além de uma crítica constante à forma como as discussões eram conduzidas; observava-se literalmente mais uma vontade de cada um em expor uma fala do que ouvir a posição do outro e propor algo a partir desta. Não eram feitas perguntas, a impressão passada foi a de vários monólogos sucessivos disconexos, na maioria das vezes (isto no contexto das aulas expositivas).

—- E tiveram os bons momentos também. Ouvir experiências práticas de pessoas que vivem algo do tipo foi enriquecedor, poder partilhar de alguma forma dessas histórias e lutas. Havia ali a necessidade explícita estampada, precisamos da autogestão pra funcionar, pra que as pessoas neste contexto vivam, não escolheram isto, o aspecto foi tomando contorno, se desenhando.

Quando nós pensamos no significado de grupo, gostaríamos que fosse apenas definido como mais de uma pessoa em conjunto. Porém, consultando rapidamente qualquer dicionário de bolso (PRIBERAM), podemos agregar novos horizontes de significação. Embora o primeiro e mais obvio significado seja o de ‘um número de pessoas ou de coisas que formam um todo’, ou de ‘associação’, preferimos pensar no significado de grupo como corpo o que, curiosamente, é apenas o quinto significado conotativo mais utilizado para ‘grupo’. Uma inesperada surpresa foi encontrar o sexto significado do termo sendo utilizado para designar ‘mentira’. Porém, ao nosso ver, a questão principal é que não houve em momento algum uma discussão como por exemplo ‘o que é um grupo pra você?’ ou ‘o que você espera desse grupo’, porque praticamente sempre habitamos espaço carregado de atravessamentos institucionais dentro da UFRJ, o que significa dizer que algo como um grupo, que sempre teve o significado institucional pressuposto neste ambiente, deveria necessariamente ser também resignificado, uma vez que se propunha algo nunca visto antes no Instituto de Psicologia, e que este trabalho deveria ser assumido por um grupo/corpo.

PEDRO, NÃO SEJA UMA PEDRA DE TIMIDEZ

 

           Pedro pintou a cara de pedra                                                                          

musgo e parasita

passando a ter dificuldade em

sustentar o próprio crânio                                                                       

com o pescoço

uma cabeça de 90kg

 

a cabeça pesada o trazia pra frente

então suas costas começaram a doer

– putaqueopariu, pensou Pedro,

estou com dor nas costas

 

titubeou para frente

cambaleou para trás

e visto a impossibilidade de manter-se

de pé

permitiu-se,

culminando em uma cambalhota ridícula.

assim, Pedro pedra ridículo I passou a lo-

comover-se.

 

o sindicato, então, interviu.

– Pedro pedra, isso não é jeito de andar,

isso daí é ciganagem.

as crianças não podem te ver,

e os velhos não vão te suportar.

 

Pedro padrão, subitamente desperto para

a sua posição de elemento constituinte no todo maior sindical,

tentou acender a fogueira empapada à querosene

com a ponta de seu cigarro de palha,

inutilmente porém.

Inclinado ao desespero pelas circunstâncias adversas, lágrimas brotaram-lhe nos

olhos, escorrendo até a boca e depois a barba. O medo possuiu-lhe e então lembrou-se de sua avó querida.

Uma chance em sessenta e três bilhões, lembrou-se do documentário que passou

na tv. Uma centelha surgia, e a fogueira incandesceu subitamente.

               Combustão  espontânea significa milhares de insetos desfalecidos.

Acreditamos que a ideia de corpo é essencial para pensarmos em células micropolíticas e na integração sistêmica dos corpos que constituem este corpo/grupo, pensando em consequências naturais de relacionamento organoléptico real, esta entendida como propriedade dos corpos aptos a causar uma impressão nos sentidos. Acreditamos que pensar em um corpo possibilita existir uma relação que extrapola as lógicas mecânicas das ações instituidas, possibilitando toda uma abertura ao devir e à interação interpessoal. Além disso, nos possibilita uma reapropriação do tempo/espaço em que a pessoa está inserida, necessariamente pela integração dos sentidos que atravessam como forte vetor e que nos remetem a um funcionamento orgânico, o que usualmente é mal considerado nos meios verborrágico-descritivos que a academia vitupera.

A noção de corpo quando relacionada à de órgãos, leva à prefiguração de um Organismo, o qual pressupõe Organização, no sentido de uma Unidade funcional. Enquanto conceito remonta ao Organon aristotélico. Sem dúvida um dos conceitos mais enraizados em nossas mentes e coexiste com um conjunto de outros conceitos também cristalizados e que permeiam e orientam nossas falas: Unidade, Identidade, Totalidade, Ordem, Hierarquia, entre outros, e isso, sob a égide da lógica binária e do modelo arborescente de pensar, de relação causa/efeito, evolução linear.  Este texto procurará sair da conceituação pertinente ao “mundo da representação” enquanto percepção macro (molar) e enveredar por outro caminho, ou seja, um entendimento micro, molecular, das práticas urbanas, pretendendo esboçar, na limitação do espaço disponível, que a cidade, enquanto processo de um conjunto de experiências, constrói seu “Corpo sem órgãos”.

DUREZA

 

Você até tem boa dicção, mas daí a dizer que é atriz… acho um pouco demais. E ainda mais humor, Cremilda… Fazer humor? Você facilmente poderia estar trabalhando em um banco!  

Você , Cremilda, é daquelas que poderiam ser, que poderiam ter feito alguma coisa. Mas não foi, e não será, simplesmente porquê não aconteceu. Não existe razão,lógica ou explicação. Cremilda, essa é a vida.

Se f: [a,b] -> R contínua, e mE[f(a), f(b)], existe um c e [a,b], tal que f(a) = m.

Cremilda, aprenda a matemática a vera, pois o banco lhe espera. Logo, se f: [a,b] – > R Cremilda tem razão a e lógica b, e em E[f (a), f (b)] persiste um cú de atriz… Tal que f(cc) = Martha.

Martha é a sua gerente Cremilda, e seu lugar agora é no caixa 4, onde você passará as próximas 40 horas das suas 52 semanas de seus próximos 40 anos de vida profissional. Sentada.

Cremilda deu um pinote pra trás, como se tivesse lembrado de um momento humilhante semelhante, apesar de jamais , nesta vida, ter passado por algo parecido.

 

Disse:

– Não!

 

A calcinha na cabeça. A chuva lá fora em nada inibiu sua corridinha.

 

Conclusão: IPUB!

 

Foi ser feliz no IPUB.

 

Lou(cura).

que porra de final é esse?

 

é duro fio, é duro..

 

e aonde vai parar?

 

pra onde vai a partir disso?

 

vamos terminar na lou(cura)?

 

estamos condenados a isso?

 

só espero que nao tenha parênteses..